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Pastéis de feijão de Mangualde

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    Comer um pastel de feijão do Patronato de Mangualde é um prazer que faz parte do quotidiano dos Mangualdenses. Para quem vive longe esse prazer torna-se um matar de saudades.    E mesmo que não queiramos a pergunta surge na nossa mente. De onde vem esta receita? Quem a inventou? Será conventual? A pastelaria do patronato surgiu na década de trinta com o objectivo de   financiar obras de apoio social da paróquia. Neste domínio foi muito importante a acção   de D. Maria Amélia Ortiz Ribeiro que trouxe consigo o seu receituário pessoal onde, entre outros, constava a receita destes deliciosos pasteis. Até aqui nada de novo. Afirmar, com baste nesta história, que a receita é conventual é pura imaginação. Além disso Mangualde nunca teve conventos femininos, havendo apenas uma tentativa de fundar um recolhimento, que não teve sucesso. Como chegamos então à história deste doce? Recuemos a 1834. Nesta altura um decreto real extingue todos os most...

Torre de Gandufe, Mangualde

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            Dar voz às pedras, que silenciosamente vão guardando segredos de milénios, é tarefa de arqueólogos e historiadores. Há por todo o nosso concelho algumas pedras que lançam pequenos murmúrios de desespero, enquanto outras permanecem escondidas no entulho que o tempo arrastou ou, simplesmente, quietas e mudas em qualquer campo ou pinhal, resguardadas pela vegetação ou pelo próprio homem, que, alheio à sua linguagem, por elas passa indiferente.             As pedras ali permanecem, ali ficam à espera do homem. À espera que alguém lhes devolva a vida, lhes dê fala e delas faça História.             Assim fez a Câmara Municipal de Mangualde com a Torre de Gandufe. Um   conjunto de pedras, perdidas há séculos num campo agrícola de Gandufe, constituído por uma parede e um terço de outra. Comentava-se de...

Chegou o tempo dos míscaros

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Míscaros           Este tempo outonal, ora solarengo, ora chuvoso, traz-me à memória   o tempo dos míscaros  (ou dos cogumelos como agora mais vulgarmente lhes chamamos). Ainda de tenra idade aprendi a  identificar os que na minha aldeia, entendiam os  mais velhos, serviam para comer. Com 6 /7 anos,  depois de virmos da escola, deleitavamo-nos pelas matas vizinhas a apanhar míscaros. Às vezes levávamos míscaros à professora acabadinhos de apanhar, antes de chegar à escola.           Aprendi a identificar e a colher apenas quatro variedades. Todos os outros eram rejeitados com a desculpa de que eram venenosos. Hoje sei que alguns desses são verdadeiras pérolas gastronómicas mas, mesmo depois de os conhecer, não os consigo colher.   Os míscaros               Os míscaros eram os mais apreciados. De um amarelo dourado, começavam a aparecer logo no início do O...

Caldo de farinha

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Mangualde foi durante séculos  terra de gente simples e pobre. Muito ligada ao campo,  a sua alimentação andou sempre à volta do feijão, da couve, das carnes de porco, da batata, do queijo, do requeijão e da carne de carneiro para os tempos de festa. Poucas receitas se encontram denominadas  "à moda de Mangualde". São antes modos de cozinhar de uma região. Mas eis que num livro de cozinha  encontrei esta receita  de "sopa à moda de Mangualde", testemunho de um tempo em que a batata não fazia parte do quotidiano alimentar dos mangualdenses e era a farinha de milho que ocupava o lugar principal na cozinha. Uma receita que nos transporta para o século XVIII e XIX já que a batata só se começa a tornar abundante depois de meados deste século.   Esta sopa, que eu também comi na minha meninice, é conhecida popularmente por "caldo de farinha" e não é mais do que um caldo verde sem batata. É uma receita simples constituída pela trilogia alimentar dos po...

Dia Mundial da Poesia

EST'ÁTUA Cansei-me de tentar o teu segredo: No teu olhar sem cor, - frio escalpelo, O meu olhar quebrei, a debatê-lo, Como a onda na crista dum rochedo. Segredo dessa alma e meu degredo E minha obcessão! Para bebê-lo Fui teu lábio oscular, num pesadelo, Por noites de pavor, cheio de medo. E o meu ósculo ardente, alucinado, Esfriou sobre o mármore correcto Desse entreaberto lábio gelado... Desse lábio de mármore, discreto, Severo como um túmulo fechado, Sereno como um pelágo quieto. Poema de Camilo Pessanha publicado em 1890 num Jornal de Mangualde: O NOVO TEMPO.

O Carnaval em Pinheiro de Baixo e de Cima

Quem à cerca de 30 anos passou pelas aldeias do concelho de Mangualde, na época carnavalesca, viveu e assistiu a manifestações de autêntico sabor popular, com jogos tradicionais, cantares e danças de roda, mascaradas e outras brincadeiras. Toda a população saía à rua e, novos e velhos, numa comunhão de alegria, faziam desta quadra a mais alegre do ano. Todos eram actores de um espectáculo que não tinha espectadores. Praticavam-se rituais próprios que se repetiam em todas as aldeias, mas com particularidades próprias que iam variando de ladeia para aldeia. Na década de 80 tudo mudou. Começaram os carnavais-corço   atraindo   as populações que   saiam das suas localidades para irem assistir ao corço de Nelas, Canas de Senhorim, Carregal do sal, Anadia… E assim o ajuntamento deixou de existir em cada aldeia. Todos esmoreceram e o Entrudo virou memória. Mas vamos ao genuíno Entrudo da minha meninice em Pinheiro de Baixo e de Cima. Aqui a festa começava muito cedo, na quinta-f...

Instrução pública em Mangualde no séc. XIX

Francisco do Couto, administrador do concelho de Mangualde, fez, em Outubro de 1855, um relatório dirigido ao Conselho Superior de Instrução pública sobre  a situação em que o concelho se encontrava em matéria de ensino público. A situação era calamitosa afirmando o autor que havia aldeias onde quase ninguém sabia ler uma carta ou uma ordem pública. Na tentativa de melhorar a situação, e seguindo a lei de 20 Setembro de 1844, que reconhece a necessidade de obrigar os pais a mandarem os filhos à escola, Francisco do Couto implanta novas escolas, fornece ardósias, abecedários e outros livros de apoio e, perante os seus superiores, realça como muito positivo o facto de se terem acabado os castigos corporais e de se ter introduzido o método de cantar a tabuada e outros exercícios matemáticos!  Tudo isto aumentava a afluência dos alunos. Eis a situação então existente: Mangualde tinha uma cadeira de latim  ministrada na própria casa do professor e frequentada por 30 alu...

O casamento do século

         O séc. XVIII começou em Mangualde com um importante casamento. Em 7 de Janeiro de 1710, Miguel Pais de Amaral, filho de Simão Pais de Amaral e de Leonarda Maria Castelo Branco recebeu-se na sua capela do Cando com D. Maria Arcangela de Castelo Branco, filha de Domingos Marques Ferrão Castelo Branco e D. Juliana Marques residentes na sua casa do Canedo do Chão, sua prima em 4º grau de consanguinidade (ADV, paroquial, cx 10, nº 2). Foram presentes  Duarte Pacheco e seus filhos, Francisco de Albuquerque e João Pais de Amaral da cidade de Viseu e outras mais pessoas . Presidiu à cerimónia um tio da noiva, o Reverendo Manuel Ferrão.        A família Pais de Amaral, ainda hoje presente na sociedade Mangualdense, era já na altura detentora  de vasto património e de grande poder económico e social, com casa senhorial bem no coração da vila. O pai do noivo, Simão Pais de Amaral, era capitão-mor de Azurara da Beira e detentor do mor...

Termas de Alcafache

O uso das termas como terapêutica médica remonta a tempos antigos. Num tempo em que as formas de tratamento das doenças eram escassas, o uso das Caldas foi-se tornando ao longo de toda a Idade Moderna um recurso importante que importava valorizar. Francisco da Fonseca Henriques, médico português nascido em Mirandela, em 1665, e falecido em Lisboa, em 1731, escreve, em 1726, uma obra intitulada Aquilégio Medicinal onde inventaria todas as caldas, fontes, rios, etc, existentes em Portugal. Sobre as caldas de Alcafache (pag. 20) diz o seguinte: Estas caldas estão perto do lugar de Alcafache, termo da villa de Azurara da Beira, bem junto ao rio Dão, onde nasce uma fonte de agoa sulphorea com moderado calor e com prodigiosa virtude para curar os mesmos achaques que as Caldas de São Pedro do Sul (...) tendo mays a particularidade que como nacem com calor mulcebre e suave podem-se usar em naturezas cálidas, sem o perigo de que se offendão com ellas; porque as não esquentão, como se tem obser...