Caldo de farinha



Mangualde foi durante séculos  terra de gente simples e pobre. Muito ligada ao campo  a sua alimentação andou sempre muito à volta do feijão, da couve, das carnes de porco, da batata, do queijo, do requeijão e da carne de carneiro para os tempos de festa.
Poucas receitas se encontram denominadas  "à moda de Mangualde". São antes modos de cozinhar de uma região. Mas eis que num livro de cozinha  encontrei esta receita  de "sopa à moda de Mangualde", testemunho de um tempo em que a batata não fazia parte do quotidiano alimentar dos mangualdenses e era a farinha de milho que ocupava o lugar principal na cozinha. Uma receita que nos transporta, portanto, para o século XVIII e XIX já que a batata só se começa a tornar abundante depois de meados deste século.
 
Esta sopa, que eu também comi na minha meninice, é conhecida popularmente por "caldo de farinha" e não é mais do que um caldo verde sem batata. É uma receita simples constituída pela trilogia alimentar dos portugueses: a couve, a farinha e uma gordura que podia oscilar entre o azeite e banha de porco, religiosamente guardada na salgadeira  para os gastos diários, permitindo uma poupança de azeite, que nem sempre abundava.

Aqui fica a receita para quem quiser experimentar:

1 molho de nabiças grandes ou couve galega
250 g de farinha de milho
1 dl de azeite
2 l de água
sal
Põe-se a água ao lume numa panela. Logo que ferva juntam-se as nabiças cortadas como caldo verde. Tempera-se com sal e azeite até cozer. Desfaz-se a farinha de milho em água fria e mistura-se ao caldo da panela deixando cozer.


BOM APETITE!

Fonte: VALENTE, Maria Odete Cortes - Cozinha de Portugal: Beiras. Lisboa: Circulo de Leitores, 1994, p. 73

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