Chegou o tempo dos míscaros
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Este tempo outonal, ora solarengo, ora chuvoso, traz-me à memória o tempo dos míscaros (ou dos cogumelos como agora mais vulgarmente lhes chamamos).
Ainda de tenra idade aprendi a identificar os que na minha aldeia, entendiam os mais velhos, serviam para comer. Com 6 /7 anos, depois de virmos da escola, deleitavamos-nos pelas matas vizinhas a apanhar míscaros. Às vezes levávamos míscaros à professora acabadinhos de apanhar, antes de chegar à escola.
Aprendi a identificar e a colher apenas quatro variedades. Todos os outros eram rejeitados com a desculpa de que eram venenosos. Hoje sei que alguns desses são verdadeiras pérolas gastronómicas mas, mesmo depois de os conhecer, não os consigo colher.
Os míscaros eram os mais apreciados. De um amarelo dourado, começavam a aparecer logo no início do Outono nos pinheirais. Aqui, desenvolviam-se também as sanchas e os míscaros brancos, mais tardios. Os tortulhos gostavam das zonas laterais dos lameiros, da sombra dos castanheiros ou das estevas.
Hoje, já não consigo identificar os míscaros brancos, mas todos os outros estão ainda no meu ADN e não deixo de me espantar quando ouço falar da morte de alguém, por consumir cogumelos venenosos. Para mim, que os aprendi a identificar quase no berço, constitui um acto empírico, básico e natural.
Era com estas pequenas maravilhas gastronómicas, tão populares e ao preço de uma caminhada até à mata mais perto, que se elaboravam pratos deliciosos e nutritivos. Ora assados na brasa só com umas pedras de sal, fritos num bom azeite ou salteados com uma boa cebolada ou, porque não, numa arrozada de míscaros. Os sabores eram simples, com poucos ingredientes, mas deliciosos. Primava a cebola, o azeite dos olivais da região, um pouco de pimenta e de colorau e pouco mais. As sanchas, por exemplo, hoje um cogumelo gourmet, eram deliciosas feitas em cebolada, com o molho bem apurado, de cor salmão, servidas simplesmente com umas batatas cozidas. Há anos que não como isto, mas sinto ainda o sabor dessa simples e deliciosa refeição.
Mas se, no meu tempo de criança, os míscaros constituíam um alimento quotidiano no tempo outonal, hoje apresentam-se à mesa como uma raridade gastronómica.
Percorro agora as mesmas matas que percorria em criança e chego a casa de cesto vazio. Já não há míscaros na minha aldeia! É difícil encontrá-los. Porquê? Excesso de colheita em anos passados? Falta de limpeza das matas? Não sei! Apenas em alguns pequenos redutos, ou matas mais longínquas, se encontram alguns. Lá para os lados do Sátão ou Moimenta da Beira, onde dizem que ainda abundam, ou, então, no mercado semanal onde se encontram à venda a 15 e a 20 € o quilo!
Que saudades que eu tenho dos míscaros, que durante séculos fizeram a mesa farta das gentes da Beira, nos tempos outonais. As crianças, os adultos, todos saltitavam de mata em mata à procura desta iguaria. Quando se encontrava um, era certo que havia outros por perto. Então, as crianças, ávidas de maior colheita, delimitavam o espaço e gritavam – Esta roda é minha! Afastava-se a folhagem e era ver pequenos montículos de terra gretada ou os míscaros já saídos de chapéu aberto. Depois era só afastar a terra com cuidado e, com a ajuda de um pau, retirar o precioso cogumelo. Era uma emoção!
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míscaros brancos |
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