O Carnaval em Pinheiro de Baixo e de Cima

Quem à cerca de 30 anos passou pelas aldeias do concelho de Mangualde, na época carnavalesca, viveu e assistiu a manifestações de autêntico sabor popular, com jogos tradicionais, cantares e danças de roda, mascaradas e outras brincadeiras.
Toda a população saía à rua e, novos e velhos, numa comunhão de alegria, faziam desta quadra a mais alegre do ano. Todos eram actores de um espectáculo que não tinha espectadores. Praticavam-se rituais próprios que se repetiam em todas as aldeias, mas com particularidades próprias que iam variando de ladeia para aldeia.
Na década de 80 tudo mudou. Começaram os carnavais-corço  atraindo  as populações que  saiam das suas localidades para irem assistir ao corço de Nelas, Canas de Senhorim, Carregal do sal, Anadia…
E assim o ajuntamento deixou de existir em cada aldeia. Todos esmoreceram e o Entrudo virou memória.
Mas vamos ao genuíno Entrudo da minha meninice em Pinheiro de Baixo e de Cima.
Aqui a festa começava muito cedo, na quinta-feira anterior ao domingo magro, a “Quinta-feira das comadres”.
Na noite anterior os rapazes solteiros reuniam-se e acompadravam todos os solteiros e solteiras  da aldeia. Na manhã seguinte a lista era afixada na porta da taberna.
O mesmo sorteio voltava a repetir-se na “quinta-feira dos compadres” (quinta-feira anterior ao domingo gordo).
Ambos os sorteios obrigavam o compadre a dar as amêndoas à comadre no dia de Páscoa.
Esta prática era imbuída de um carácter lúdico na medida em que também as velhas e os velhos solteirões entravam no sorteio, mas era também uma forma de proporcionar novos namoros e de estreitar relações entre a comunidade. Em suma ficava demonstrado que era possível que todos os solteiros se podiam casar na sua terra.
Continua

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