Instrução pública em Mangualde no séc. XIX

Francisco do Couto, administrador do concelho de Mangualde, fez, em Outubro de 1855, um relatório dirigido ao Conselho Superior de Instrução pública sobre  a situação em que o concelho se encontrava em matéria de ensino público. A situação era calamitosa afirmando o autor que havia aldeias onde quase ninguém sabia ler uma carta ou uma ordem pública. Na tentativa de melhorar a situação, e seguindo a lei de 20 Setembro de 1844, que reconhece a necessidade de obrigar os pais a mandarem os filhos à escola, Francisco do Couto implanta novas escolas, fornece ardósias, abecedários e outros livros de apoio e, perante os seus superiores, realça como muito positivo o facto de se terem acabado os castigos corporais e de se ter introduzido o método de cantar a tabuada e outros exercícios matemáticos!  Tudo isto aumentava a afluência dos alunos.
Eis a situação então existente:
Mangualde tinha uma cadeira de latim  ministrada na própria casa do professor e frequentada por 30 alunos.
Quanto ao ensino primário existiam seis escolas, isto é, seis cadeiras porque nem todas funcionavam em edifícios públicos.
Assim em Mangualde havia uma casa pública paga pela Câmara Municipal, frequentada por cerca de 100 alunos. Nas aldeias de Fornos, Lobelhe, Santiago de Cassurrães, Chãs de Tavares e Abrunhosa -à-velha faziam-se também tentativas de ensino primário.
Em Fornos de Maceira Dão a escola funcionava na casa do professor e apenas havia abecedários e livros para os mais pobres;
Em Lobelhe o autor atesta-se a fraca concorrência e aproveitamento dos alunos assim como o pouco respeito que os alunos tinham ao professor.
Em Santiago de Cassurrães observa  a muito pouca adesão à escola. Porquê? pela indolência e desleixo dos pais em mandar os filhos à escola e também pelo pouca competência do professor, o padre Simão Amaral Chaves, detestado pela população.
Em Chãs de Tavares havia espaço para a escola funcionar, a extinta Câmara Municipal, mas verificaram-se problemas com a nomeação do professor.
Finalmente em Abrunhosa-à-velha  a escola funcionava na casa do professor e o município ia fornecendo abecedários e livros necessários.
No total as seis escolas primárias não tinham muito mais de 200 alunos, diga-se rapazes, porque para as meninas ainda tinham que passar mais uns anos para que a sociedade aceitasse a sua alfabetização.

Este relatório fornece-nos uma ideia muito clara do ensino público em pleno século XIX e da dificuldade que os municípios tinham em implantá-lo. Valiam-se da boa vontade de alguns professores que, em troca de um pequeno ordenado, faziam da sua própria casa a escola pública.
Não deixamos também de sorrir quando o autor diz que se acabaram os castigos corporais!  Quem não se lembra ainda das reguadas que levou na escola primária! Basta ter frequentado a escola primária pouco antes do 25 de Abril.

Para os mais curiosos o texto completo encontra-se aqui.

Comentários

Mensagens populares deste blogue

Doce de abóbora porqueira

O abacate na mesa portuguesa

Pastéis de feijão de Mangualde