O Passadiço – a casa dos avós: boas memórias que obrigam a voltar


Um destes dias, em passeio pelo Interior Beirão, sugeriram-me o restaurante O Passadiço – a casa dos avós -, em Lobão da Beira, Tondela. Logo à partida, o local é sugestivo pois leva-nos para a terra onde o célebre advogado Lobão se estabeleceu no século XVIII e onde terá escrito muitas das páginas dos seus livros jurídicos. Quem sabe um pouco de história do Direito não deixa, quando aqui passa, de recordar este eminente jurista. Da mesma forma, o segundo nome do restaurante – a casa dos avós - dá azo a algumas expectativas gastronómicas. Conforto, nostalgia e afecto são palavras que nos vêm logo à memória associando-lhe a partilha de pratos saborosos. Quem não tem uma boa recordação dos seus avós? De uma sopa, de um bolo, de um mimo alimentar qualquer, que nos vai aquecendo a alma pela vida fora.
Foi com essas expectativas que partimos para Lobão da Beira.

A surpresa começou logo na entrada. Alguém que nos recebeu com um sorriso, trajando uma blusa vintage, ornada com lacinhos e folhinhos, e nos convidou a entrar numa sala verdadeiramente surpreendente. A tal casa dos avós aparecia aos nossos olhos de todas as formas e feitios. Os móveis antigos, os candeeiros, as toalhas e naperons de renda, que decoram as mesas e sobre as quais depois nos servem a comida, os pratos, os talheres, tudo démodé, dos anos 50/70, quer dizer, habitual nas casas dos nossos avós. Há ainda um rádio antigo instalado numa mesa central que nos vai deliciando com fados da época; e se olharmos para o tecto também nos surpreendemos, experimentem…

E a comida? Afinal, viemos aqui para comer. Depois de umas azeitonas tradicionais, optámos por duas sopas diferentes, uma de tomate, deliciosa, e outra de abóbora, nada inferior. Como prato principal escolhemos o clássico arroz de costelas, tão típico desta região. Estava divinal, e servido numa daquelas terrinas dos serviços de jantar dos anos 60 ainda parecia melhor. Reavivou todas as minhas memórias gustativas que me ficaram da infância, quer da comida quer da terrina.

 



 Na sobremesa uma mousse de chocolate, que dividimos, intensa, forte, feita com bom chocolate e ovos do galinheiro da avó. Foi servida numa chávena também ela vintage.



Por fim, um café e um chá servidos a preceito, no mesmo serviço de louça.


A comida estava deliciosa, perfeita, diria mesmo, e este mimo de irem buscar o serviço de louça e o ambiente ao jeito dos mais antigos, dá uma envolvência e um sabor especiais ao momento. Gastronomia também é isto! Recriar memórias afectivas conectando-nos com as nossas raízes familiares e culturais.

Ah! no final, a conta veio num daqueles porta-moedas floridos que as avós guardavam no bolso do avental. E porque era bonito também o levavam à missa para dar a esmolinha a Nosso Senhor. Um porta moedas avantajado num tempo em que as notas eram mais raras e o cascalho pesava na carteira.


Registei com agrado este momento sensorial dos sabores beirões mais genuínos, num espaço decorativo que nos envolve. Uma experiência e repetir em terras de Lobão da Beira!

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