É tempo de melões e melancias
Quando, finalmente, saía o primeiro melão ou a primeira melancia a festa acontecia! Pesavam-se, apalpavam-se, fazia-se, com uma faca, um quadradinho para perscrutar o interior…. Por fim, refrescava-se na água do poço e todos participavam na prova e opinavam sobre a qualidade e o sabor. Nos finais de Agosto, começavam a abundar e, nas festas da Natividade, nos inícios de Setembro, tirava-se a barriga de misérias. Era uma farturinha! Havia melões e melancias por todo lado. Ainda guardo uma fotografia da minha avó, algures nos finais dos anos sessenta, em dia de romaria, com um melão na mão. A pesá-lo, a senti-lo…
Percebi este ritual há poucos anos quando observei que os monges de Tibães, no século XVIII, premiavam com uma gorjeta o hortelão, que lhes tratava do meloal, no momento em que este aparecia na cozinha com o primeiro melão da época. Era uma espera que finalmente acontecia, e que merecia gratificação, porque significava que tinha feito um bom trabalho.
Um dos frutos mais apreciados desde tempos antigos
Depois destas reflexões percebemos que o melão sempre foi um dos frutos mais apreciados pelos portugueses! Houve um tempo até, lá nos alvores do século XVI e XVII, em que se cultivava uma variedade de melões de Inverno que frutificavam em Maio. No século XVIII dizia-se que era um dos mais formosos frutos que produz a terra, que mitigam a sede e refrigeram as entranhas, atribuindo-se-lhes até algumas funções medicinais como a de baixar a febre.
Mas, porque eram frios e húmidos, isto é, pouco saudáveis, por crescerem junto à terra, era necessário corrigi-los de modo a que não prejudicassem a saúde. Nasceu, assim, o hábito de comer melão com presunto, ou com especiarias, alimentos quentes e secos que combinados com a frieza e humidade do melão e o transformam num alimento temperado, isto é, moderadamente quente e húmido. Nestes ditames medicinais era também recomendável que se acompanhasse com um bom vinho, igualmente quente e húmido. E lá diz o ditado que, com melão vinho de tostão! Esclareça-se aqui que um tostão equivalia, em tempos antigos, a 100 reis, isto é, um valor já elevado para um almude de vinho, só compatível para os vinhos quentes e doces da região do Douro.
Agora, os melões existem ao longo de todo ano nos mercados e as melancias começam a aparecer logo no mês de Fevereiro. Já não há espera, nem ritual. Vai-se ao mercado e compra-se. Quando muito pergunta-se ao vendedor se é bom. As melancias também já não têm semente porque os novos consumidores não gostam de ser incomodados com estes caprichos da natureza! Que chatice ter que cuspir a semente da melancia!
Enfim, venham os frutos para a mesa e deliciemo-nos com estas maravilhas gastronómicas, agora que começa a ser tempo deles!
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