O abacate na mesa portuguesa

 
 
 
 
 
 
 
 
Charles Plumier - Nova plantarum americanarum genera, 1703
 
      
            É surpreendente o sucesso deste fruto (persea americana) que agora se produz e vende em todo o país e que todos dizem gostar muito, desta ou daquela maneira. Eu cá continuo a detestar este sabor insípido.

A chegada dos produtos tropicais a Portugal e à Europa aconteceu depois do século XVI, quando portugueses e espanhóis chegaram à Índia e à América Central e logo depois ao Brasil. A variedade de produtos que aí encontraram, tão diferentes dos que a Europa produzia, foi desafiante. Os sabores e as cores encantaram os europeus. E assim foi chegando o cacau, o café, o chá, o milho, o tomate, o pimento, a banana, o ananás, a laranja doce, o feijão, o coco, a abóbora, a batata e tantos outros. O abacate também chegou e encontramos, ainda hoje, alguns desenhos da época, feitos por botânicos que, no século XVII, se aventuraram por aquelas paragens, descrevendo e desenhando tudo o que encontravam. Só que não ganhou adeptos e ficou quase esquecido.

Um fruto afrodisíaco

Sabemos que os Índios da América central, onde este fruto proliferava, lhe atribuíam muita importância medicinal e afrodisíaca. Garantia a virilidade masculina e era venerado numa festa anual por altura da maturação dos frutos. O significado de abacate, numa das línguas nativas daquela região, significa testículo, o que nos revela da importância e do significado deste fruto no contexto das comunidades que viviam na América Central. Mas todo este conhecimento à volta do abacate não entusiasmou os europeus. O sabor insípido e a necessidade de um clima suficientemente quente para que a árvore se desenvolvesse relegou-o para o quase esquecimento. Ao contrário, o ananás, o coco e a banana foram-se lentamente introduzindo e fazendo sucesso. Tal como a manga e o maracujá. É certo que os mosteiros beneditinos portugueses no Brasil plantavam alguns destes frutos, essencialmente para alimento dos escravos, mas não tardou que também as elites se entusiasmassem com estes sabores exóticos e cativantes e os plantassem nas suas estufas. Um cozinheiro português do século XVIII surpreende-nos, inclusive, com a novidade de uns ovos-moles de coco. Algo surpreendente se quisermos falar de identidade alimentar.

Um fruto saudável

Só agora, cinco séculos depois, é que o abacate começou a fazer sucesso. Com a divulgação das diferentes cozinhas mundiais e a popularização do guacamole, um molho mexicano feito com abacate, tomate, cebola, coentro, azeite, sal e pimenta, este fruto começou a ser visto com outros olhos. Os olhos dos padrões de beleza e de saúde do mundo ocidental. Actualmente, comer abacate significa prevenir o envelhecimento, favorecer o ganho de massa muscular, ajudar a emagrecer, melhorar o funcionamento cerebral, prevenir o cancro e as doenças cardíacas e ajudar a regular o açúcar no sangue combatendo a temível diabetes.

Um fruto gordo, mas saudável. A tal gordura que se procura fora dos temíveis óleos alimentares e que hoje se concentra, entre outros, no azeite, no óleo de coco e no abacate. Os Americanos chamam-lhe, inclusive, a manteiga da Califórnia.

 Não há “chef” que não o inclua nas suas ementas. Mesmo nas mais tradicionais lá aparece o abacate. Um toque de modernidade e de saúde que fica bem, diria mesmo, chique!!

Este gosto tem levado muitos portugueses a plantarem um abacateiro no quintal. No Minho, sobretudo em localidades mais protegidas dos frios e das geadas, o abacateiro vai proliferando. E agora surpreendentemente todos gostam de abacate. Com limão, com vinho do porto, com sal e azeite, enfim, com o que quiserem, lá parece o abacate à mesa e nas conversas de café.

Será que veio para ficar? É caso para dizer que as novidades do novo mundo continuam a chegar… quinhentos anos depois!



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