Ir a águas...com o Aquilégio Medicinal
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No nosso país a tradição dos tratamentos termais data da época dos romanos. O próprio termo Caldas deriva do latim cálidas que significa quentes, águas quentes. Mas esta tradição romana não foi bem aceite na Europa durante a idade média, principalmente nos países católicos. A igreja considerava este hábito como um acto impuro, infame, criticando de forma severa o facto de o crente se entregar aos prazeres do corpo.
Nos séculos XVI e XVII, com os movimentos culturais do renascimento e do Humanismo as mentalidades mudam. Começam a enaltecer-se as águas termais como ideais para tratamento de várias doenças. As termas valorizam-se com o apoio da igreja e da coroa de que são exemplo, em Portugal, as caldas da Rainha onde é instituído, em 1485, um hospital com o apoio da Rainha D. Leonor, mulher de D. João II.
No século XVIII os emigrantes brasileiros e a aristocracia impulsionaram ainda mais estes novos costumes e foi, a partir de então, com as políticas de saúde pública e os movimentos higienistas, que o termalismo se impôs, passando a ser uma das práticas mais recomendadas pelos médicos. Nessa altura foram criadas leis de forma a regulamentar a concessão, a exploração e o exercício da medicina termal. A nível académico, o currículo médico foi enriquecido com uma nova disciplina, a hidrologia médica, que teve como intuito explorar todas as potencialidades das águas termais do ponto de vista terapêutico
Águas de mar
No que concerne às águas de mar com indicação terapêutica, começam também a aparecer tratados que evidenciam a sua importância. Em 1701, John Floyer, médico e religioso, publicou a obra História do Banho Frio, defendendo a importância da água do mar no tratamento dos doentes. Mais tarde, em 1749, Richard Frewin, descreve, pela primeira vez, a cura de um doente submetido a tratamento com estas águas. Começa, então, a surgir a moda dos banhos de mar por receita médica e as praias da Normandia tornam-se um atractivo, tanto pela beleza da sua costa, como pela proximidade com Paris, representando as águas de mar cada vez mais uma alternativa no tratamento de doenças em que outros meios terapêuticos falhavam. Em Portugal começam a tornar-se famosas as praias da Póvoa de Varzim, de Espinho, Figueira da Foz, em Lisboa, em Sintra e tantas outras.
Águas dos rios e fontes
Tornaram-se também famosas outras águas de fontes e de rios, onde as pessoas iam em ritual molhar-se ou beber de modo a obter saúde. É por isso que no inquérito enviado aos párocos de todo o país, em 1758, as chamadas memórias paroquiais, se pergunta pelas águas existentes em cada paróquia, pela sua utilidade e pela sua fama terapêutica.
É neste contexto que o médico português Francisco da Fonseca Henriques, nascido em Mirandela, em 1665, e falecido em Lisboa, em 1731, escreve, em 1726, uma obra intitulada Aquilégio Medicinal onde inventaria todas as caldas, fontes, rios, poços, lagoas e cisternas, existentes em Portugal. Este homem, que foi médico do rei D. João V, era um profundo conhecedor da importância das águas termais. Era aliás oriundo de uma região onde essas águas eram famosas desde os tempos romanos. Referimos-nos às termas de Chaves, actualmente um importante património arqueológico
Termas de Alcafache
Mangualde, ou seja Azurara da Beira, tinha também as suas caldas e sobre elas aquele médico diz o seguinte:
Estas caldas estão perto do lugar de Alcafache, termo da villa de Azurara da Beira, bem junto ao rio Dão, onde nasce uma fonte de agoa sulphorea com moderado calor e com prodigiosa virtude para curar os mesmos achaques que as Caldas de São Pedro do Sul (...) tendo mays a particularidade que como nacem com calor mulcebre e suave podem-se usar em naturezas cálidas, sem o perigo de que se offendão com ellas; porque as não esquentão, como se tem observado muytas vezes. Não se tomão banhos desta agoa em tanques, porque os não há, nem commodidade para os haver; por estar a fonte em sitio pedragoso e tão chegada ao rio Dão, que no Inverno a cobre; mas tomão-se em huma casa que fica visinha; e em alguas quintas, para onde levão a agoa, chegando lá com tão pouco calor, que muytas vezes he necessario aquentála, e ainda assim faz maravilhosos effeytos.
Para quem tiver curiosidade sobre outras caldas e outras águas é só pesquisar o livro cujo frontispício se apresenta.
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