Jardins barrocos em Mangualde
Fonte: https://www.winalist.pt
Quando observamos, pelo olhar da fotografia aérea, para a cidade de Mangualde, percebemos um traçado urbano organizado, primeiro, num pequeno burgo de feição medieval, o Relógio Velho, depois, a nascente, a presença de várias casas nobres que se espraiam desde o palácio de Anadia até à casa de José Rebelo Castelo Branco, hoje Câmara Municipal. Neste núcleo para além desta casa existem ainda, ao lado, a casa dos Albuquerques, e logo abaixo a casa dos Condes de Mangualde. Em Frente à Câmara Municipal, do outro lado da praça, situa-se a casa do Rossio, primeiro dos viscondes da Torre de Moncorvo, depois, por casamento, da família Soares de Albergaria.
Todas estas casas tinham a sua quinta envolvente, mas a urbanização que se seguiu à compra da casa de Rebelo Castelo Branco, para aí se instalar a Câmara Municipal, em 1856, ditou o fim de todas essas áreas, onde sobressaíam campos agrícolas, pomares, tanques, jardins, bancos e linhas de buxo. Em seu lugar definiram-se ruas, rasgaram-se praças e construíram-se casas que deram origem a um novo pólo urbano, que passou a substituir o acanhado e estreito relógio Velho. Por trás da casa do Rossio, por exemplo, havia uma vasta quinta, que ocupava o espaço que é hoje toda a área do mercado municipal, e da qual eu ainda tenho lembrança. Ao fundo ainda se localiza parte dessa quinta, no acanhado jardim denominado por Quinta de D. Leonor, onde emerge uma fonte com as armas da família. Junto a esta casa localizava-se ainda outra, entretanto destruída, cujo brasão hoje se ostenta no início da Avenida Senhora do Castelo, e que foi pertença de uma outra família nobre com as armas dos Sousas, Pintos, Borges e Carvalhos.
Neste entremeio manteve-se serena a imponente cerca do palácio de Anadia, apenas levemente coartada nos inícios dos anos 80 para dar lugar a mais uma rua que rasgou horizontes em direcção a Cubos, à estação de caminhos de ferro e a Gouveia. Desde o momento em que entramos na zona urbana, esta cerca emerge aos nossos olhos e acompanha-nos até ao centro da cidade, marcando o compasso de toda a urbe. No seu interior subsistem uma vasta mata, jardins e campo agrícolas. É um verdadeiro oásis no coração de Mangualde que merece um pouco da nossa atenção. Espreitemos esse belo jardim barroco, que ainda hoje delícia os mangualdenses e seus visitantes, pelo olhar de Cristina Castel-Branco, a arquitecta paisagista que o estudou e registou na obra “Jardins com história”:
“O jardim é constituído por uma série de espaços ajardinados dispersos na propriedade e ligados entre si por um sistema de caminhos, havendo uma mistura entre espaços de produção e de recreio, tudo delimitado com sebes de buxo impecavelmente talhadas (…). Para não esquecermos que tudo é jardim, todo o percurso é enriquecido por zonas de estar sempre ladeadas de fontes, bancos e varandins que dominam a paisagem. (..) A cada esquina nos aparecem novas construções, novas estruturas de jardim, novas plantações.
O jardim principal está disposto em terraços onde sobressaem um tanque e dois lagos, um com nenúfares outro coberto de musgo. Encontramos ainda uma enorme magnólia central rodeada de sebes topiadas, um bom conjunto de camélias e azáleas, uma curiosa casa de fresco e uma estufa de ferro e vidro (…).
Toda a propriedade é envolvida por uma mata formada por uma boa colecção de árvores de grande porte e percorrida por uma rede de caminhos onde encontramos um grande pombal ladeado por duas casas para os patos, com os respectivos lagos, um cemitério dos cães da casa, um pequeno convento com três frades de pau, um campo de jogos e um obelisco”.
Depois destas deliciosas pinceladas pouco mais nos resta dizer. Fica apenas uma vontade enorme de fazer uma visita para sentir este belo jardim barroco! Aqui tão perto!
Comentários
Enviar um comentário