Uma maçã por dia...


No tempo das colheitas e na nossa região, onde os campos vão ficando abandonados, despertam-me a atenção as maçãs, um dos dos alimentos mais tradicionais aqui e em todo o país. 
A maçã é a fruta mais famosa do mundo ocidental. Provavelmente é a mais antiga a ser cultivada e consumida. Esta longa história transformou-a, segundo a tradição popular, na fruta do pecado, ou seja, o fruto proibido do paraíso que Eva comeu e deu a comer a Adão, e na fruta do mal, pois foram maçãs que a bruxa má deu a comer à Branca de Neve. Ao longo dos séculos vai continuar a revelar-se famosa. É uma maçã que cai na cabeça de Newton, fazendo com que ficasse ciente da força da gravidade e, nos nossos dias, foi uma maçã de serviu de inspiração a uma marca de computadores e telemóveis.
Tem fama de ser um fruto saudável. A tradição médica portuguesa, até ao século XX, inspirada na sabedoria de Hipócrates e Galeno, e que não considerava os frutos muito saudáveis, dizia que eram alimento de bom suco, sobretudo as maçãs do outono que apanhavam sol ao longo de todo o Verão e eram mais doces. Por seu lado os ingleses dizem que an apple a day keep de doctor away. E para além disso, e à falta de clima para cultivarem a vinha, aprenderam a transformá-la numa saborosa bebida alcoólica.
A maçã tem ainda a vantagem, ao contrário da maioria dos frutos, muito perecíveis, de se conservar no tempo em razoáveis condições de salubridade, sem necessitar de uma atmosfera controlada, estando assim presente na mesa ao longo de todo o ano. Refiro-me, como é obvio, às variedades tradicionais e autóctones e não àquelas introduzidas na Europa depois da segunda guerra mundial e desenvolvidas nos Estados Unidos da América, ao longo do século XIX. São as golden, as gala, as fugi, as starking, as gramy Smith e tantas outras, que foram ganhando sucesso pela doçura, acertada cientificamente, e pelo apoio que a indústria química, em franco desenvolvimento, entendeu dar-lhe pois para poderem sobreviver e produzir, neste clima e solo hostis, estas variedades necessitam de inúmeros tratamentos químicos. Depois de colhidas e para se manterem em bom estado de saúde requerem um ambiente controlado com temperaturas baixas, alta humidade e baixo teor de oxigénio. A indústria química proliferou como nenhuma outra ao longo do século XX e na agricultura implantou-se e criou raízes. E assim, a maçã, o fruto saudável que a Europa divulgou e consumiu, passou a fazer parte da lista dos 12 alimentos mais tóxicos em todo o mundo. Qual maçã da bruxa da Branca de Neve!!
Ao contrário as variedades tradicionais oscilam entre o ácido e o muito doce, conservam-se ao longo de todo o Inverno, apenas necessitando das temperaturas frias que o nosso clima propicia e crescem saudáveis sem necessitarem de grandes tratamentos químicos pois estão perfeitamente adaptadas ao clima e ao solo desde há milhares de anos. Além disso começam a produzir logo no início do Verão estendendo-se até ao final do Outono. Começamos pelas maçãs do São João e terminamos já quase em Novembro, na Martim gil ou na Porta-da-loja que depois de colhidas se conservam até á Pascoa do ano seguinte. Isto só para dar alguns exemplos. São variedades ambientalmente sustentáveis.
Mas onde é que elas estão?
Para além das poucas macieiras que ainda subsistem perdidas pelos quintais, Portugal tem centenas de variedades autóctones devidamente conservadas nas quintas pertencentes às Direcções Regionais de Agricultura. São maçãs deliciosas das quais já quase esquecemos o sabor. São as bravo de Esmolfe, as malápio, as pêro-pipo, as porta-da-loja, as focinho-de-burro, as camoesas, as verdeais, as três-ao-prato, as de São João e tantas, tantas outras.
Agarre esta ideia e atreva-se a dar uma dentada porque algumas destas variedades começam lentamente a ressurgir. Esta é uma dentada ambientalmente segura e saudável.

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