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Papas de milho no Carnaval (Quintela, Mangualde)

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Fonte: Viseu Now   Nos últimos anos tem sido notícia o consumo de papas de milho, por altura do Carnaval, na freguesia de Quintela, em Mangualde. Estranha tradição num tempo de consumo de carne, de despedida para um tempo novo – a Quaresma – que impõe 40 dias de jejum e abstinência, num apelo constante de renovação interior, onde a carne se ausenta por estar ligada a conceitos de nutrição, de conforto e de saúde.   Comida pobre   As papas de milho, embora confeccionadas com chouriça, faziam parte do cardápio da gente pobre, a que se recorria quando nada mais havia para comer. Se faltava o feijão, e mais recentemente, as batatas, recorria-se às papas de milho ou rolões . A própria chouriça que lhe era adicionada era, também, de segunda categoria. Chamam-lhe «chouriça de boche» por ser feita com os bofes do porco e outras carnes mais secundárias e ensanguentadas. Quando se ia ao moleiro moer a farinha de milho para fazer o pão, mandava-se também moer, mais grosseirament...

Papas de sarrabulho… com cominhos e limão!

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  Ramo de limoeiro a anunciar que há papas de sarrabulho! Restaurante O Alexandre, Campo das Hortas, Braga     A experiência de comer  este prato Comer um bom prato de papas de serrabulho, acompanhadas com rojões, tripas e farinhotes, é uma verdadeira e única experiência gastronómica, nada comparável a outras comidas, também com algumas características peculiares. É entrar numa outra realidade, penetrar no Minho profundo, nas entranhas da terra e sentir a capacidade que os minhotos desenvolveram ao longo de séculos, transformando alimentos secundários, meros desperdícios, numa iguaria estranha, complexa, rústica e, atrevo-me a dizer, deliciosa.     É comida antiga encontrando-se referida nas fontes documentais dos bracarenses pelos menos desde o século XVI. Mas virá, com toda a certeza, de muito mais atrás. Chama-se sarrabulho, mas também pode chamar-se verde, bazulaque, sarapatel, mondongo… receitas onde o sangue e as vísceras se fundem dando origem...

Pão Bento... ou pão da vida!

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  Há tradições gastronómicas que nos enternecem. Pela simplicidade, pela força espiritual que transportam, pela história carregada de emoção que trazem até aos dias de hoje. É o caso do pão sagrado que, depois de benzido, se faz saudável e sem bolor por longo tempo, mantendo viva a sua presença e fazendo-nos crer que o pão, esse alimento sagrado e tão quotidiano, não nos faltará. Pão que significa vida. Pão que significa Deus. Pão que é um garante de abundância. Num destes dias um colega de trabalho, o Joaquim Loureiro, ofereceu-me dois pedaços de pão benzido. Era o dia dos meus anos e, por isso, olhei para aquele presente com um carinho especial. A recomendação era que o guardasse num saco de pano e ficasse certa que ele se aguentaria firme e sem bolor durante longo tempo. Não era a primeira vez que tinha ouvido falar deste pão. Já o tinha conhecido em Coimbra, em Lamego e também em Braga, na igreja do Pópulo, numa tradição ligada a Santo António. Este que me foi oferecido v...

O cidrão na mesa de Natal

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  Cidrão em Pico de Regalados, 2011                                          Não cresci com cidrão. Só há poucos anos sei o que é. Descobri devagarinho, depois de ler várias vezes, em documentos do século XVII e XVIII, a referência à compra de cidrão cristalizado e de um doce denominado cidrada (feito com cidrão). A estranheza da denominação levou-me a fazer perguntas, aqui e ali, e a perceber que se trata de um citrino, que dá uns frutos amarelos, parecidos com o limão, mas muito maiores e muito mais aromáticos. A árvore que o produz chama-se cidreira e o fruto também se pode chamar cidra. Nada de confusões com a sidra, ou seja, uma variedade de maçã que depois de fermentada dá uma bebida. Procurei esta árvore no país e encontrei-a na Madeira e no Minho. Sim, no Minho ainda há cidreiras que produzem cidrões, ou cidras, que são vendidos para as empresas de ...

Bolinhos de jerimú

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As iguarias de Natal do Entre Douro e Minho O Natal tem as suas próprias iguarias que foram mudando ao longo dos séculos. Iguarias que, no passado não muito distante, se diferenciavam pela classe social. Nas mesas ricas estavam doces onde primavam os ovos, o açúcar, a amêndoa e o leite, enquanto os mais pobres deitavam mãos a recursos mais baratos e mais quotidianos como o pão, o mel, o vinho, a abóbora, algum fruto seco, que houvesse por casa, e pouco mais. Os ovos existiam mas não eram assim tão abundantes, porque se vendiam na feira para fazer uns trocos, necessários para os gastos quotidianos; o leite era mais abundante em terras do Minho mas, mesmo assim, vendia-se sempre que se podia; o açúcar era muito caro, consumindo-se doseado em dias especiais e quando a doença batia à porta. No Minho esta escassez é ainda hoje muito visível num receituário onde a criatividade saltou para a mesa em forma de verdadeiras iguarias. As rabanadas de vinho tinto, em substituição de leite; a ale...