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Um casco de cebola

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  Há tradições alimentares que estão estritamente ligadas a um tempo de comida escassa, de dias longos em que a fome apertava e pouco havia para comer, deitando-se a mão aos poucos recursos disponíveis com alguma criatividade de permeio. Falamos da chamada gastronomia da fome que, agora, em tempos de abundância, está novamente na moda. Um tempo em que se comia a broa porque o pão branco era raro e caro, só acessível nos dias de festa; o presunto, o queijo e o salpicão, quando os havia, governavam-se cuidadosamente ao longo do ano, para as merendas das maiores fainas agrícolas e para dias e visitas especiais. Ao invés, no quotidiano abundavam os legumes frescos da horta, especialmente no Verão, particularmente tomates, pepinos, pimentos, cenouras e cebolas. Molhava-se também um pouco de broa nos restinhos de azeite que sobravam no prato, onde às vezes também se juntava um dente de alho ou umas azeitonas. A cebola crua, com sal e vinagre, ou simplesmente picada sobre as batatas ou ...

Melão com presunto! vamos conhecer a história

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       Em tempos mais recuados, que se prolongaram até à década de setenta, só depois de meados de Agosto é que começava o tempo dos melões e das melancias. Até lá, guardava-se quotidianamente o meloal ou o melancial. Era preciso manter a rega, capar os melões, ir vigiando e contando os frutos que iam crescendo e… esperar, esperar com paciência.      O acto de capar nunca o percebi, mas olhava-o como uma etapa fundamental para haver boa produção. Percebo agora que não é mais do que uma poda que retira estrategicamente alguns rebentos para que os outros possam crescer e frutificar. Mas, se o acompanhamento das plantas era importante era, também, preciso evitar os ladrões furtivos que, no silêncio da noite, destruíam meses de cuidados e canseiras! Às vezes, escondiam-se os frutos, já crescidos, com milhã por cima, para não avivar o olhar alheio, outras vezes dormia-se junto aos frutos com a arma carregada...     A emoção do primeiro fruto ...

Vai uma sardinha?

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Chegam os santos populares e começa o tempo da sardinha. Sim, porque é no final da Primavera, até meados do Outono, que esta adquire o máximo da sua gordura, que depois utiliza para produzir os ovócitos e espermatozoides necessários à fase reprodutiva. E a sardinha fica gorda, saborosa e a pingar no pão! As gentes do povo aprenderam a saboreá-la e a guardá-la, bem salgada, em potes de barro ou em barril, para depois se comer ao longo do Inverno. Mas de onde vem este hábito de comer sardinha? A costa portuguesa sempre foi pródiga de sardinhas e os portugueses, sobretudo os mais pobres, habituaram-se desde os tempos antigos a alimentar-se quotidianamente com este peixe bom e barato. No século XVIII dizia-se que era o peixe “que melhor sofre do sal” e que depois de salgada durava dois anos sem se deteriorar. Mas também se dizia que era muito pingue e oleosa fazendo mal ao estômago, embora se reconhecesse que era de “excelente sabor”. Estas qualidades, de sabor e apetência para uma l...

Bazulaque!? O que é isso?

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          Há comidas milenares, que atravessaram os séculos integras e fiéis aos seus criadores, indiferentes a guerras, mudanças sociais e revoluções, que foram mudando os caminhos da nossa civilização. Têm nomes estranhos, sabores fortes e complexos e, normalmente, deixam-se cozinhar durante longas horas. Chamam-lhe agora alguns “confort food”, mas eu prefiro o termo mais português de “comida caseira”.   Designam-se por sarrabulho, verde, sarapatel, cabidela, mondongo, bazulaque… Bazulaque!? Confesso que nunca tinha ouvido falar de tal comida, mas porque, por estes dias, me surgiu em diferentes contextos, fui por aí…     Recuando no tempo De facto, ouvi há poucos dias falar de uma Confraria do Bazulaque. O que é isso? Pensei eu. Não muito tempo depois eis que volto a ler a mesma palavra num livro de gastos do Mosteiro de Tibães, em finais do século XVIII: “dei por um bazulaque para um almoço”. Ui! Também aqui? Continuei a ler...