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As Pútegas

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Comida de sobrevivência Estão na moda as cozinhas nativas e ancestrais com as suas técnicas e os seus ingredientes milenares. Em continentes como África, América e Oceânia ganha força o gosto pelos alimentos e cozinhados pré-colonização, resgatando hábitos alimentares, produtos e técnicas, que foram abandonadas por força de uma certa globalização alimentar imposta pelos movimentos colonizadores. No nosso país não falamos de colonização, mas falamos claramente de uma cozinha e de alimentos que, durante um tempo histórico, garantiram às populações mais pobres alguma sobrevivência alimentar e que, por força da melhoria das condições de vida, foram abandonadas. Falamos de survival food , ou seja, comida de sobrevivência, ensinada agora em programas televisivos e em caminhadas científicas e culturais, para gente que vive na abundância e gosta de experiências exóticas como esta. É claro que algumas nuvens negras ameaçam agora a nossa existência. Volta-se a falar de falta de géneros...

Lampreia ou… veneno doce!

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  Por estes dias, e durante mais algum tempo, fala-se de lampreia. Nas redes sociais, nas conversas de café, nas ementas dos restaurantes, nas bancas do mercado. A lampreia está por todo lado. E, coincidência ou não, também se faz presente nos documentos que por agora trago em mãos: “possuía três canais de lampreia” ou “tem hua pesqueira que he boa de lampreias”, são registos dos séculos XVI e XVII que testemunham a abundância da lampreia no rio Cávado. Mas também no rio Lima e, mais acima, no Minho, a lampreia se anuncia desde tempos remotos. E descendo até ao Douro observo, ao longo do século XVIII, as lutas judiciais dos monges de Alpendurada por causa das pesqueiras dos sáveis e das lampreias. Continuando a descer chegamos ao Vouga e ao Mondego, com as mesmas lutas e o mesmo sabor. Os sáveis, as lampreias e os salmões eram muito apreciados e, por isso, a sua pescaria muito acautelada pelos que a ela tinham direito. O Mosteiro de Tibães era um desses grandes senhorios que cont...

Papas de milho no Carnaval (Quintela, Mangualde)

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Fonte: Viseu Now   Nos últimos anos tem sido notícia o consumo de papas de milho, por altura do Carnaval, na freguesia de Quintela, em Mangualde. Estranha tradição num tempo de consumo de carne, de despedida para um tempo novo – a Quaresma – que impõe 40 dias de jejum e abstinência, num apelo constante de renovação interior, onde a carne se ausenta por estar ligada a conceitos de nutrição, de conforto e de saúde.   Comida pobre   As papas de milho, embora confeccionadas com chouriça, faziam parte do cardápio da gente pobre, a que se recorria quando nada mais havia para comer. Se faltava o feijão, e mais recentemente, as batatas, recorria-se às papas de milho ou rolões . A própria chouriça que lhe era adicionada era, também, de segunda categoria. Chamam-lhe «chouriça de boche» por ser feita com os bofes do porco e outras carnes mais secundárias e ensanguentadas. Quando se ia ao moleiro moer a farinha de milho para fazer o pão, mandava-se também moer, mais grosseirament...

Papas de sarrabulho… com cominhos e limão!

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  Ramo de limoeiro a anunciar que há papas de sarrabulho! Restaurante O Alexandre, Campo das Hortas, Braga     A experiência de comer  este prato Comer um bom prato de papas de serrabulho, acompanhadas com rojões, tripas e farinhotes, é uma verdadeira e única experiência gastronómica, nada comparável a outras comidas, também com algumas características peculiares. É entrar numa outra realidade, penetrar no Minho profundo, nas entranhas da terra e sentir a capacidade que os minhotos desenvolveram ao longo de séculos, transformando alimentos secundários, meros desperdícios, numa iguaria estranha, complexa, rústica e, atrevo-me a dizer, deliciosa.     É comida antiga encontrando-se referida nas fontes documentais dos bracarenses pelos menos desde o século XVI. Mas virá, com toda a certeza, de muito mais atrás. Chama-se sarrabulho, mas também pode chamar-se verde, bazulaque, sarapatel, mondongo… receitas onde o sangue e as vísceras se fundem dando origem...

Pão Bento... ou pão da vida!

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  Há tradições gastronómicas que nos enternecem. Pela simplicidade, pela força espiritual que transportam, pela história carregada de emoção que trazem até aos dias de hoje. É o caso do pão sagrado que, depois de benzido, se faz saudável e sem bolor por longo tempo, mantendo viva a sua presença e fazendo-nos crer que o pão, esse alimento sagrado e tão quotidiano, não nos faltará. Pão que significa vida. Pão que significa Deus. Pão que é um garante de abundância. Num destes dias um colega de trabalho, o Joaquim Loureiro, ofereceu-me dois pedaços de pão benzido. Era o dia dos meus anos e, por isso, olhei para aquele presente com um carinho especial. A recomendação era que o guardasse num saco de pano e ficasse certa que ele se aguentaria firme e sem bolor durante longo tempo. Não era a primeira vez que tinha ouvido falar deste pão. Já o tinha conhecido em Coimbra, em Lamego e também em Braga, na igreja do Pópulo, numa tradição ligada a Santo António. Este que me foi oferecido v...